terça-feira, 19 de julho de 2016

Manutenção Preventiva - Parte II

Manutenção Preventiva - Parte II


Na primeira parte falamos sobre a definição de manutenção preventiva e sobre os elementos do Plano de Manutenção Preventiva (PMP). Agora vamos tratar da implantação do plano de manutenção preventiva.

Planejamento do PMP

Primeiramente vamos esclarecer que o PMP deve ser geral para o parque de equipamentos da empresa, devendo ser definido um plano válido para todos os equipamentos, certo? Não, ERRADO. O plano de manutenção preventiva é específico para cada equipamento. E mesmo para equipamentos do mesmo tipo o PMP pode varia em termos de itens e frequência das tarefas, em função da situação do equipamentos (falamos sobre isso na primeira parte!!!).

Antes de mais nada é preciso definir se "o tipo de equipamento" vai ou não ter manutenção preventiva. Isso mesmo, nem todo equipamento tem plano de manutenção preventiva. Os microcomputadores, por exemplo, não costumam ter plano de manutenção preventiva pois i) são de fácil reparo; ii) tem baixa criticidade (desde que se faça backup dos arquivos). Assim, só se desencadeia a manutenção quando há um chamado de manutenção corretiva (ex. micro não liga). Certamente, quando se abre um microcomputador para substituição de uma placa, por exemplo, pode-se aproveitar para fazer a limpeza interna, limpeza dos pentes de memória, e outros procedimentos que se enquadram como manutenção preventiva. 

Vimos no texto anterior que devem ser definidos, entre outros possíveis, os seguintes itens em um PMP:
  - Itens que serão trabalhados
  - O tipo de ação para cada item: inspeção / ajuste / substituição.
  - A frequência da inspeção de cada item.
  - Os insumos necessários para realizar cada ação do plano de manutenção preventiva
  - As ferramentas e equipamentos necessários
  - Os manuais necessários
  - Procedimentos de segurança necessários
  - Observações relevantes
  - Tempo padrão para cada ação (ex. 0,5 horas para substituição de um rolamento).

Um vez definido o PMP a equipe de manutenção deve ser capacitada para executar cada uma das tarefas que compõem o plano. Aqui não se deve partir do pressuposto que todos entendem e estão plenamente capacitados para executar uma tarefa, é preciso capacitar todos para nivelar o conhecimento. A capacitação inicial pode ser feita com a leitura do procedimento e prática no equipamento dos mais simples. Quanto às capacitações nos procedimentos mais complexos, que exijam desmontagem do equipamento, podem ser deixadas para o momento de execução conforme PMP original.

Execução do PMP 

 De nada adianta planejar se o PMP não for executado adequadamente. Como se trata de uma atividade programada, deve-se garantir que todos os recursos estejam disponíveis para a execução das atividades de manutenção preventiva:
- Ferramentas;
- Equipamentos;
- Materiais;
- Esquemas;
- EPI e EPC necessários;
- Material para isolamento da área, se necessário;
- Pessoal.
 Toda essa organização é necessária para que ao ser parado o equipamento a manutenção preventiva inicie imediatamente, sem que seja necessário ir buscar itens faltantes ou ficar procurando algum recurso.
Durante a execução do PMP os responsáveis pelas tarefas que o compõem devem fazer registros, confirmando a execução das tarefas, registrando os valores de medições realizadas, e anotando qualquer não conformidade observada.
Durante a execução do PMP, imprevistos podem impedir que as tarefas previstas para o dia sejam executadas integralmente. Quando isso ocorre é preciso decidir quais tarefas serão postergadas para o próximo dia ou para o próximo período, sendo fundamental que se mantenha registro do que não foi executado e das razões.

Controle do PMP


O plano de manutenção preventiva deve ser controlado, em termos de frequência de execução e forma de execução. Periodicamente deve ser auditado. É muito como que itens com pouca ocorrência de falha sejam negligenciados, justamente por nunca apresentarem problemas. O executante da manutenção registra como item OK, sem na verdade fazer as verificações necessárias. Para aumentar a responsabilidade, em organizações onde o comprometimento da equipe é baixo, o responsável pela execução do PMP diário deve assinar o formulário de controle.

Outra questão fundamental é não criar um abismo entre pessoal de execução e gestão da manutenção. A comunicação deve ser facilitada, e sempre que possível os registros em formulários ou sistemas devem ser complementados verbalmente. Por outro lado o pessoal responsável pela parte administrativa da manutenção deve "sair da cadeira" e circular na área operacional, a fim de facilitar essa comunicação entre execução e controle/planejamento.

O controle do PMP envolve:
- Verificar se o plano de manutenção preventiva está sendo cumprido (através dos registros);
- Auditar a execução do PMP  (através de acompanhamento, verificação in loco);
- Avaliar causas do descumprimento do PMP (itens que deixaram de ser feitos por falta de tempo, de material, pessoal ou outra razão);
- Registrar as observações e alimentar sistemas informatizado;
- Criar, atualizar e divulgar estatísticas e gráficos de controle.

Melhoria do PMP

Adiantamos a questão da melhoria do PMP no post anterior. Mas é importante ressaltar o caráter dinâmico do PMP. Se você tiver um PMP com mais de um ano sem atualização, desconfie. Alterações nas tarefas (inclusões, exclusões), na descrição e complementos da tarefa (riscos, procedimento, ferramentas necessárias, referências) e na frequência de execução (diária, semanal, quinzenal, mensal, anual) são decorrentes da análise dos indicadores (tempo médio entre falhas, tempo médio de reparo, etc.).

Uma forma de garantir a revisão dos PMP é realizar periodicamente uma reunião para reavaliá-los. Para que esta revisão não seja algo monótono, é importante limitar o tempo à no máximo 30 minutos, escolhendo um conjunto de PMP para revisão, usando critérios de criticidade.

É importante ter sempre em mente que manutenção preventiva custa dinheiro, e portanto acrescentar itens ou reduzir a frequência de execução de tarefas deve ser justificado. Por outro lado, deve-se sempre lembrar que a falta de manutenção preventiva implica no aumento da manutenção corretiva, que além de ter custo mais elevado ocorre de forma não programada com maior impacto na operação.

Uma última dica sobre gestão da manutenção preventiva: SIMPLIFIQUE!

Busque sempre simplificar formulários, controles, facilitando o uso e eliminando itens desnecessários. Se puder informatizar e automatizar, ótimo! Se não tiver condições e depender de registros manuais, busque tornar mais simples os controles, a partir de opiniões de quem realiza.




sexta-feira, 1 de julho de 2016

Manuteção preventiva - Parte I

Planejando e executando antes da falha

Como vimos no post anterior a manutenção preventiva consiste em um conjunto de procedimentos realizados em intervalos definidos (tempo ou ciclos de utilização) para manter as condições normais de funcionamento dos equipamentos.

Na definição da manutenção preventiva deve-se descrever:
- Itens que serão trabalhados
- O tipo de ação para cada item: inspeção / ajuste / substituição.
- A frequência da inspeção de cada item.
- Os insumos necessários para realizar cada ação do plano de manutenção preventiva
- As ferramentas e equipamentos necessários
- Os manuais necessários
- Procedimentos de segurança necessários
- Observações relevantes
- Tempo padrão para cada ação (ex. 0,5 horas para substituição de um rolamento). 

O plano de manutenção preventiva resulta em um documento, que deve ser acessível e atualizado, e sempre que necessário revisto para incorporar novas práticas.

Criando o plano de manutenção preventiva.


Aí vem a pergunta: Como definir um plano de manutenção preventiva?

As fontes de informação para montar um plano de manutenção preventiva são diversas, mas geralmente envolvem:
- O manual do equipamento;
- Informações técnicas complementares do fabricante;
- Orientações da engenharia de manutenção;
- Subsídios da área de operação que faz uso do equipamento;
- Melhorias incorporadas após vários ciclos de manutenção preventiva (refinamentos);
- Informações do fabricantes das partes do equipamento (ex. fabricante de mancais). 
- Bibliografia técnica (ex. literatura sobre durabilidade de rolamentos).

Em alguns casos, infelizmente raros, o plano de manutenção preventiva quase completo é fornecido pelo fabricante do equipamento. Alguns fabricantes apenas disponibilizam os planos de manutenção preventiva para as assistências técnicas autorizadas. Para equipamentos mais antigos o plano de manutenção preventiva original não existe ou tem pouca validade em função de diversas modificações no equipamento e desgaste decorrente do uso. Abaixo um exemplo de Plano de Manutenção Preventiva para um determinado equipamento.


PLANO DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA - EXEMPLO EQUIPAMENTO DE AUTOMAÇÃO

FREQUÊNCIA
ITEM
Diária
Semanal
Mensal
Anual
Testes de inicialização
x



Limpeza geral superficial
x



Lubrificação - Nível 1
x



Reaperto geral

x


Lubrificação - Nível 2

x


Lubrificação - Nível 3


x

Inspeção de rolamentos

x


Desmontagem geral



x
Limpeza geral da CPU


x

Troca dos filtros de ar



x
Substituição das borrachas de vedação



x
Limpeza das fontes de alimentação



x
 


No link abaixo o exemplo acima está disponível em planilha do Google Docs.
Plano de Manutenção Preventiva - Exemplo 1

Veja que no exemplo apenas constam os itens e a frequência de execução de cada um. Outro ponto importante a destacar é que cada plano de manutenção preventiva é específico para determinado equipamento. Mais a frente apresentaremos outros exemplos mais elaborados!

Aprimorando o plano de manutenção preventiva. 

Tomando como base o exemplo acima, podemos discutir o aprimoramento do plano de manutenção preventiva (PMP). Algumas questões que poderiam ser avaliadas para melhoria do PMP:

- É possível separar o equipamento em módulos e deixar o PMP mais específico?
- Qual o ferramental e demais recursos necessários para cada ação (linha) do PMP?
- Que tal acrescentar referência para o procedimento de cada ação do PMP? Por exemplo procedimento de Lubrificação Nível 1.
- Qual o tempo previsto em fração de horas para cada atividade do PMP?
- Há necessidade de alterar a frequência de determinados itens (passar de mensal para semanal, ou de mensal para anual, por exemplo)?

Na verdade o Plano de Manutenção Preventiva (PMP), embora seja um padrão a ser seguido, não é algo completamente estático. Deve passar por ciclos de melhoria (PDCA). É importante, no entanto, que se uma pessoa ou grupo discordar do PMP vigente, e tiver uma ideia de melhor forma de executá-lo que faça  a sugestão mas até a alteração continue seguinte o plano vigente.

Fatores que influenciam o Plano de Manutenção Preventiva


  • Estado atual do equipamento: para equipamentos novos a tendência é basear o PMP nas recomendações do fabricante, e nas melhores práticas para itens mais usuais. Ou seja, no início ainda não há histórico de falhas e portanto a elaboração da versão inicial do PMP é mais sujeita à incerteza. Já para um equipamento com várias horas de uso o aprendizado gerado leva a incorporação de novos itens, alteração da frequência ou inclusão de notas e procedimentos adicionais para melhor execução do PMP. Por outro lado, um equipamento no fim da vida útil, que apresente alta frequência de falhas, pode exigi um PMP mais rigoroso, com verificações frequentes e substituição de itens de forma antecipada, até que seja substituído. Alguns equipamentos também passam por modificações no projeto original, que levam à necessidade de rever a manutenção preventiva.

  • Condições do ambiente: as condições do local de instalação do equipamento também influenciam no PMP. Se o ambiente tem muita poeira a limpeza deverá ser mais frequente. Se é muito úmido, pode ser necessário incluir verificações adicionais, bem como reduzir o prazo de inspeção de determinados itens que se desgastaram mais acentuadamente. É claro que em paralelo deve-se  buscar melhorar estas condições ambientais.

  • Nível de autonomia dos operadores para práticas de manutenção: quando se pratica a manutenção produtiva ou autônoma, com incorporação de práticas de manutenção pelos operadores é possível simplificar os PMP a cargo da equipe de manutenção. Se, por outro lado, os operadores "não dão a mínima" para os equipamentos, é preciso, até que a gestão resolva esses conflitos, que o PMP seja mais rigoroso.

  • Habilidade da equipe de manutenção: de acordo com a habilidade da equipe de manutenção pode ser necessário, por exemplo, incluir recomendações e alertas para determinados procedimentos do PMP. Considero importante que a forma de redação do PMP, o nível de detalhamento, a simbologia utilizada e outras condições do documento gerado permitam que qualquer técnico, mesmo um novo integrante da equipe, compreenda como executar as atividades do plano. 

  • Criticidade do equipamento: este ponto foi deixado por último, apesar de não ser, nem de longe, o menos importante. É preciso ficar bem claro que o plano de manutenção preventiva vai ser diferente de acordo com a criticidade do equipamento. Equipamentos críticos precisam de maior atenção na elaboração do PMP. Mas ... o que faz com que um equipamento seja considerado crítico? Vamos falar disso mais a frente aqui no Blog mas de antemão podemos adiantar alguns critérios que podem ser utilizados para definição da criticidade:
          -  Impacto na operação no caso de parada do equipamento para manutenção;
          - Risco de acidente;
          - Dificuldade de acesso;
          - Dificuldade na obtenção de peças de reposição;
          - Tempo médio de reparação do item (equipamento, módulo, peça). 

Importante: O Plano de Manutenção Preventiva deve seguir o conceito de "adequação ao uso". PMP com itens excessivos e frequências desnecessariamente altas gera custo adicional, enquanto PMP desleixados e desatualizados não cumprem com o objetivo de prevenir falhas. É preciso balancear o PMP de acordo com as condições acima!

Por hora vamos ficando por aqui. Até o próximo post.

Paulo Manoel Dias
engpaulodias@yahoo.com.br