segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Tudo pronto para a manutenção ... e as peças? Parte 2


Gestão de Suprimento de Peças de Reposição na Manutenção

Eng. Paulo Manoel Dias, MsC

Publicado originalmente no blog http://germanut.blogspot.com.br/ e posteriormente revisado.

No post anterior  iniciamos a discussão sobre a gestão do suprimento de peças para a manutenção, que muitas vezes é negligenciada.  Para melhor entendimento, dividimos o tema em sete partes:
1 - Estoque inicial
2 - Previsão da demanda
3 - Planejamento orçamentário
4 - Desenvolvimento de fornecedores
5 - Controle do estoque
6 - Aquisição
7 - Recebimento

As primeiras três foram discutidas no primeiro post, agora será apresentada uma breve discussão sobre as quatro restantes (clique aqui para ler a primeira parte). 

4 - Desenvolvimento de fornecedores
O estoque inicial, se adotado, será composto de itens fornecidos pelo fabricante do equipamento, na maior parte na verdade fornecidos por terceiros. Porém, para redução de custos, e tempo de lead time de fornecimento das peças, será necessário desenvolver fornecedores. Alguns itens são facilmente fornecidos por vários fornecedores, como por exemplo rolamentos, e alguns itens elétricos e eletrônicos. Outros itens são mais específicos, exigindo que sejam solicitadas amostras que deverão ser testadas durante algum período antes de serem consideradas aptas para aquisição, como é o caso de correias de transmissão, roletes e algumas outras peças mecânicas específicas.
O desenvolvimento de fornecedores deve ser acompanhado e incluir registros quanto à qualidade, prazo de fornecimento e custo. Deve haver um cadastro de fornecedores alternativos, para os casos nos quais o fornecedor principal não possa atender no prazo ou nas condições desejadas. 
Desenvolver fornecedores não é algo que se faz apenas uma vez, ou em determinado período do ano. É um processo contínuo, que inicia da identificação de necessidades, motivado por custo, qualidade ou prazo, e envolve identificar fornecedores e definir meios de qualifica-los. Já me deparei em situações nas quais o mesmo fornecedor para determinados tipos de itens há vários anos, e ao se questionar esta constância se verificou a existência de outros fornecedores com qualidade adequada e preços bem inferiores. Em outras situação um fornecedor há vários anos atrás havia sido avaliado, e os itens por ele fornecidos foram considerados de péssima qualidade, fazendo com que a empresa em questão entrasse no rol de fornecedores desclassificados. Passados alguns anos se resolver dar nova oportunidade para o fornecedor que se revelou adequado em termos de qualidade e prazo, com custo inferior aos usuais.

5 - Controle do estoque
O controle de estoque vai se tornando mais complexo com o aumento do número de itens. Há também outros fatores complicadores, como por exemplo itens que exigem condições ambientais de armazenagem específicas, ou que tenham risco de combustão espontânea.
Incluímos aqui no controle de estoque o controle da entrada (carregamento); da saída (baixa do estoque); as verificações periódicas (contagem e conferência); acompanhamento da validade – isso mesmo peças tem vida útil; organização e limpeza do estoque; e outras ações para manter o estoque em boas condições.
Cabe destaque a questão da organização do estoque. E aí basta seguir os princípios do 5S, começando com a definição de “um lugar para cada coisa” e praticando “cada coisa em seu lugar”.  Itens com maior giro devem ter acesso facilitado. Já os itens que ao longo do tempo não tiverem atualização demandam decisão sobre a necessidade de manter no estoque, principalmente se houver restrição de espaço. Nos casos nos quais o estoque inicial tenha sido superdimensionado, talvez seja interessante descartas (adequadamente) ou mesmo revender parte do estoque do item.
Em termos de sistemas para controle de estoque há ampla oferta, tanto de sistemas dedicados como de sistemas integrados (ERP). O certo é que dificilmente se consegue uma boa gestão do estoque sem um sistema adequado. Estoque com poucos itens (algumas poucas centenas de itens no máximo) podem ser adequadamente gerenciados com uso de planilhas eletrônicas.

6 – Aquisição
A aquisição de peças deve considerar as três dimensões de desempenho: custo, qualidade e prazo de fornecimento. Nem sempre é possível conseguir a solução ótima para as três dimensões. Em algumas situações, principalmente no caso de paralização de equipamento, a dimensão prazo será a determinante, e nestes casos será necessário pagar o custo da emergência. Enquanto uma compra normal para reposição do nível mínimo do estoque pode aguardar fornecimento de 30 dias, e permite a cotação com vários fornecedores para se obter o melhor preço, a compra emergencial se baseia no prazo, o que implica em maior custo unitário da peça e maior custo com frete/entrega.
Especial atenção deve ser dada quando há necessidade de importação de peça ou conjunto pois além do maior prazo de entrega há risco de atraso em função de problemas no desembaraço aduaneiro – greves não são raras! 
É importante acompanhar as diferentes etapas da aquisição, incluindo a confirmação do pedido, confirmação do despacho e início da distribuição final. Há casos nos quais o fornecedor confirmar o pedido que fica “esquecido” e somente é retomado quando o cliente reclama.
Ainda sobre a aquisição, em uma empresa de menor porte pode ser interessante que a própria área de manutenção se encarregue de todo o processos. Em outras situações, principalmente quando a quantidade de ativos é muito grande, gerando aquisições de peças em grandes volumes, é mais comum que a área centralizada de compras se encarregue da aquisição de peças para a manutenção.

7 – Recebimento
Ao se receber o item deve ser verificado inicialmente se atende a especificação, e se a nota fiscal está adequada, liberar para pagamento (se não foi feito antecipadamente) e somente então liberar o item para o estoque, ou direto para a execução da manutenção.
Em algumas situações pode ser interessante criar uma área para guarda provisória do material recebido até que seja possível realizar as verificações de recebimento, certamente dentro de prazo que não afete o pagamento ao fornecedor, e sem comprometer o uso de peças urgentes.
Também pode ser necessário programar o teste da peça no equipamento, nos casos em que a aquisição é para reposição de estoque mas é necessário testar a peça na máquina, por não ser do fabricante original.

Com isso fechamos nossa breve discussão sobre as atividades que compõem a gestão do suprimento de peças de reposição para manutenção de equipamentos. A execução inadequada destas atividades poderá afetar o desempenho da manutenção, reforçando a noção de que a competência técnica deve estar aliada à competência de gestão.
A forma como os procedimentos para execução de cada atividade será disseminada na organização também é fundamental. Organizações que possuem a gestão de processos bem desenvolvida terão maior facilidade em garantir a execução destas e das demais práticas da gestão da manutenção. Procedimentos escritos e sistemas de suporte, bem como a criação e utilização de indicadores de desempenho para permitir o adequado controle elevam o nível de maturidade da gestão da manutenção. 

Para refletir:
- Após a leitura deste texto você acredita que há algo para aprimorar na gestão do suprimento de peças para manutenção em sua organização?
- Que indicadores de desempenho poderiam ser criados para começar a medir a performance das diferentes atividades discutidas?
- Qual das atividades da gestão do suprimento de peças parece mais crítica, e merece um projeto de melhoria?

Sucesso e saúde para todos,
Paulo Manoel Dias

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